20 de outubro de 2009

Moçambique: Marcelino dos Santos declara sua aversão pela imprensa privada

Marcelino dos Santos declara sua aversão pela imprensa privada “Camaradas, vocês são de instituições que eu não respeito. Portanto, não respondo às vossas questões. Não respeito as vossas instituições. Porquê é que querem fazer perguntas a mim?”, - Marcelino dos Santos dirigindo-se a jornalistas do Canal de Moçambique e TV-Miramar, ontem, na Praça dos Heróis, em Maputo. Maputo (Canalmoz) - O veterano da luta de libertação nacional, Marcelino dos Santos, declarou ontem a sua total aversão e desrespeito pelos meios de comunicação social independentes. Convidado a prestar declarações ao Canal de Moçambique e à televisão privada Miramar, Marcelino dos Santos foi categórico ao recusar-se. “Não respeito as vossas instituições”. Disse-o momentos depois de ter respondido às questões que lhe foram colocadas por jornalistas da Televisão de Moçambique, a televisão pública, tida como a grande instituição de propaganda do partido Frelimo, embora sobreviva à custa dos impostos de todos pagos ao Estado independentemente das simpatias políticas. O veterano da luta de libertação nacional que se recusou a responder às nossas questões, é tido como da “ala dura” da Frelimo. É tido como uma das figuras que lidera a tendência da reimplantação do sistema monopartidário em Moçambique, o mesmo sistema adoptado pela Frelimo, logo após a independência nacional em 1975, que só viria a ser destituído através de uma guerra civil sangrenta movida pela Renamo, e que durou 16 anos. Ignorando que a guerra civil semeou a destruição de significativas infra-estruturas, conduziu à morte mais de um milhão de moçambicanos e destruiu o tecido social e económico do país, Marcelino dos Santos é tido pela opinião pública como um dos mentores do regresso ao partido único por aliança com Armando Guebuza e outros velhos combatentes que se opõem à ascensão ao poder dos jovens, excepto até a lugares subalternos. Marcelino dos Santos foi abordado à margem da cerimónia de deposição de coroa de flores na Praça dos Heróis moçambicanos, em memória a Samora Machel. Samora Machel morreu no acidente fatídico de Mbuzine, há 23 anos, mas até hoje ainda não foram esclarecidas as circunstâncias em que ocorreu. Atrelando-se a uma entrevista que Marcelino dos Santos estava a conceder para a televisão públicas, um repórter da televisão privada Miramar, quis saber do veterano da luta de libertação nacional quais eram os contornos das investigações que levaram a morte do Samora Machel, e dos Santos respondeu o seguinte: “camarada-chefe, vocês são uma instituição que eu não respeito, vocês e outros, portanto eu não respondo. Não respeito a vossa instituição, porquê é que querem fazer perguntas¬ a mim?”, disse Marcelino dos Santos no seu tom habitual, temendo perguntas que por ventura poderiam desenterrar algumas verdades escondidas há 23 anos, como comenta a opinião pública. A tentativa do repórter do Canal de Moçambique insistir com as mesmas questões, também recebeu o mesmo “não”, de Marcelino dos Santos. Afinal de contas, quem matou Samora Machel? Esta é a pergunta que o povo faz no dia-a-dia. Uns defendem que se tratou de negligência de várias partes envolvidas com o voo, outros falam de morte preparada por dentro. Outros dizem que foi o regime do apartheid que matou Samora. O certo, porém, é que o texto integral do relatório da Comissão de Inquérito presidida por Armando Guebuza continua escondido sem se conhecerem as razões para tal. Joaquim Chissano chegou a dar garantias de que se publicariam as conclusões do inquérito. Tabo Mbeki, ex-presidente sul-africano também prometeu. Ambos acabaram os seus mandatos sem cumprirem com as promessas. Samora Machel morreu a 19 de Outubro de 1986, na zona montanhosa de Mbuzine, na África de Sul, num acidente aéreo quando vinha de uma reunião na Zâmbia, num dos seus esforços para se alcançar a paz na região austral de África, na altura seriamente ameaçada por guerras várias em países da SADC e pelo regime minoritário do apartheid na África do Sul. (Borges Nhamirre e Egídio Plácido) 2009-10-20