15 de dezembro de 2009

Diáspora homenageia Mário Fonseca em Lisboa


Diáspora homenageia Mário Fonseca em Lisboa

A obra do poeta Mário Fonseca, recentemente desaparecido, será alvo de uma homenagem, esta quinta-feira, 17, pelas 18h30, nas instalações da Associação Cabo-verdiana, na rua Duque de Palmela. Do program contam as seguintes actividades:

- Testemunhos sobre a vida de Mário Fonseca por Maria Margarida Mascarenhas e José Eduardo Cunha;

- Abordagens da obra literária de Mário Fonseca por Elsa Rodriguesdos Santos e José Luís Hopffer Almada:

- Projecção de um vídeo de Mito Elias sobre Mário Fonseca;

- Recital baseado na obra poética de Mário Fonseca.

- Mini-Feira do Livro Cabo-verdiano


Considerado por Arménio Vieira no prefácio ao livro “La Mer à tous les Coups” como “poeta de grande envergadura”, Mário Fonseca marcou de forma multímoda a sociedade cabo-verdiana do seu tempo.

Revelado, em 1959, pelo Boletim Cabo Verde, integrou, com Osvaldo Osórioe Arménio Vieira, um excelente trio de poetas combatentes da liberdade que, com Maria Margarida Mascarenhas, Rolando Vera-Cruz Martins e Jorge Miranda Alfama,foi responsável pela dinamização da Folha Literária Seló (Mindelo, 1962), do jornal “Notícias de Cabo Verde”.

Como escreve no texto da apersentação, o poeta Josés Luís Hoppfer Almada, " A sua postura de Homem Vertical e Maiúsculo em face de um regime obscurantista e alienante, opressor do seu próprio povo e agente de dominação estrangeira e de despersonalização cultural doHomem Cabo-Verdiano, juntou-se à sua conhecida coragem física e cívica para o propulsar das suas opções políticas em direcção aos caminhos do nacionalismo africano, da luta sem tréguas pela independência do seu país insularizado e pela libertação dos povos subjugados, incluindo o povo português, cujos poetas maiores, Camões e Fernando Pessoa, considerava seus mestres dilectos.

A poesia produzida nesta época pelo afã combatente do seu estro, depois exilado da pátria, da língua materna e da primeira língua de labor literário, e pela sua consciência revolucionária do papel missionário da palavra livre contribuíram sobremaneira para a mobilização de largos extractos da juventude e da intelectualidade cabo-verdianas, nas ilhas e diásporas, em torno da nova largada político-cultural da nossa Nação do meio do mar que tanto cantou.

Defensor acérrimo e abalizado da dignificação da língua materna cabo-verdiana, Mário Fonseca cedo deu provas da plenitude da sua universalidade de cidadão do mundo, optando por domesticar, por força de muito talento e de muita transpiração, algumas línguas que lhe podiam abrir as portas da libertação individual e da sua entrada triunfal, por via da linguagem poética, no património mundial da civilização do universal e das diferentes correntes da poesia moderna.

É assim que, quer durante o seu longo exílio, quer depois do seu regresso definitivo ao país natal, faz editar vários livros de poesia em francês, português e inglês, contribuindo, deste modo e de forma relevante, para o alicerçamento literário das várias formas de bilinguismo, também literário, que têm marcado a cultura das ilhas e as vivências das nossas diferentes comunidades diaspóricas espalhadas pelo mundo.

Cronista e crítico literário lúcido e dotado de uma sólida formação humanista e cultural, Mário Fonseca contribuiu igualmente, e de forma singular, para o delineamento do rosto actual da poesia cabo-verdiana, quer produzindo obra própria de reconhecido mérito, quer se debruçando de forma séria e pouco condescendente sobre a criação da geração literária dos anos setenta e oitenta, cujos integrantes mais importantes, aliás, viam nele um confrade mais velho e mais experiente, um irmão da tribo literária, exigente e irreverente, se bem que igualmente aberto às influências das novas experiências literárias que iam sendo engendradas pelos mais talentosos dos poetas da novíssima geração."

Sapo CV, 15 de Dezembro de 2009