18 de junho de 2010

Corrupção ataca Urgências do Hospital Central de Maputo


Corrupção ataca os Serviços de Urgências do Hospital Central de Maputo

Maputo (Canalmoz) – A chamada pequena corrupção está instalada nos Serviços de Urgências do Hospital Central de Maputo, que funcionam na entrada da Avenida “Eduardo Mondlane” daquela unidade sanitária. Um doente que procura socorro naquele sector do HCM pode levar mais de seis horas na sala de espera, sem receber o atendimento médico, depois de ter passado pela recepção e pagar 150 meticais de entrada. Para ser atendido rapidamente – que nem chega a ser tão rápido – é preciso pagar um valor extra aos serventes que recebem as fichas do doente e as encaminham para as salas médicas.
Depois de receber queixas dos utentes daquele hospital, a nossa reportagem esteve presente nos Serviços de Urgência do HCM para observar como tudo se passa.
Quando o doente chega ao hospital, passa pela recepção, onde preenche a ficha de doente, sem pagar nada. Depois segue para a caixa, para efectuar o pagamento dos 150 meticais da consulta. É neste percurso de cerca de cinco metros que os serventes do HCM interpelam os doentes para lhes perguntarem se “precisam de um atendimento rápido ou não”. Os que respondem afirmativamente não chegam a pagar o valor da consulta na caixa, mas os que não alinham nos esquemas dos funcionários do HCM e preferem efectuar o pagamento na caixa arriscam-se a passar horas a fio na sala de espera, sem que sejam chamados para a sala médica.
Quem entrega a ficha do doente aos serventes é encaminhado para a sala de espera e poucos minutos depois é chamado para a sala médica, onde é assistido com alguma urgência. O valor de 150 meticais que devia ser pago na caixa dos serviços de urgência do HCM é entregue ao servente que facilita o rápido atendimento.
Conforme tudo indica, o dinheiro que os serventes cobram ilicitamente aos pacientes é partilhado com os médicos que fazem o atendimento, na medida em que estes aceitam alterar a ordem de precedência no atendimento dos doentes segundo a entrada das suas fichas na sala médica.

Os honestos tornam-se corruptos

Os cidadãos que, no princípio, se recusam a alinhar nos esquemas corruptos dos serventes, pagando os 150 meticais na caixa do HCM e não aos serventes, acabam por ser tentados a cair nos esquemas. É que quem não colabora com estes esquemas corruptos fica indefinidamente na sala de espera, enquanto os que subornam os serventes são atendidos sem observar a sequência da chegada.
A solução para quem se cansa de esperar é chamar o servente à parte e perguntar o que poderá fazer para acelerar o seu atendimento.
A resposta é obviamente que “fala como homem” ou “paga um refresco”. Cansado de esperar, com o corpo a ferver de dores, o doente acaba por aceitar “pagar o refresco”.
Depois do pagamento, o servente entra na sala médica, procura a ficha do doente em causa, coloca-a numa posição cimeira, para permitir atendimento rápido. Instantes depois, o doente que subornou o servente é chamado para a sala médica e recebe o atendimento.
Quem tem que suportar o longo sofrimento na sala de espera é o doente sem posses para subornar os serventes. Inocente que resista às dores e à longa espera, não há.

Troca de contactos

Depois de passar por estes esquemas, os serventes e os doentes trocam os contactos telefónicos para que, na próxima consulta, o atendimento “VIP” seja coordenado atempadamente.
O cidadão que já passou por estes esquemas diz aos seus próximos que, para um rápido atendimento no HCM, é preciso levar gorjetas para os serventes. Assim, quase todos os utentes assíduos dos Serviços de Urgências do HCM sabem que precisam de fazer pagamentos extras aos serventes, para beneficiarem de atendimento rápido.

Os serventes corruptos

Nos dias em que a reportagem do Canalmoz fez este trabalho de observação do funcionamento das urgências do HCM, conseguiu registar, através dos crachás, os nomes de alguns serventes “facilitadores”. Com esta simples referência queremos apenas deixar patente que se quem dirige o hospital realmente quiser acabar com o que está a acontecer, poderá, como nós, facilmente fazer o mesmo. Mas será mesmo que a corrupção não se tornou já uma questão em que os pequenos estão lá a servir as suas hierarquias superiores? Se for o caso é pouco provável que a extorsão continue. Continuaremos a acompanhar o caso para ver se este alerta serviu para algo.

(Borges Nhamirre)
2010-06-18