28 de maio de 2013

Portugal deve devolver investimentos angolanos ilícitos (David Mendes)



Lisboa - O advogado angolano David Mendes disse esta sexta-feira, em Lisboa, que Portugal compactua com a corrupção em Angola ao aceitar investimentos com origem ilícita deste país, instando o Estado português a investigar e devolver estes recursos à Angola.


«Facilmente pode-se chegar à conclusão que Portugal tem interesse em que este grupo que sustenta a corrupção em Angola continue (a atuar), porque entram em Portugal, semanalmente, quase 40 milhões de dólares» (30,9 milhões de euros), disse Mendes, que integra também a Associação Mãos Livres.

O advogado angolano fez estas declarações à margem de uma audiência pública, organizada pela eurodeputada socialista Ana Gomes, em que se discutiu um relatório sobre corrupção em Angola.

O documento, da Corruption Watch e da Associação Mãos Livres, aponta o alegado envolvimento de figuras do regime angolano, incluindo o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, e intermediários num contrato que terá lesado Angola em mais de 700 milhões de dólares (541 milhões de euros), num acordo para restruturar a dívida de Angola à Rússia que data dos anos de 1990.

«O fluxo de dinheiro de Angola para Portugal é superior aos investimentos feitos em Angola», afirmou Mendes.

De acordo com o advogado, «esse grupo (angolano) de pessoas ligadas ao poder tem uma relação umbilical também com políticos portugueses que estão no poder».

«Portugal poderia saber de uma forma fácil como estas pessoas obtém o dinheiro e chegar à conclusão que este dinheiro é ilícito», referiu ainda, citado pela Lusa.

«Sendo dinheiro ilícito, ainda que os investimentos em Portugal sejam lícitos, o Estado português tem a obrigação de cancelar estes investimentos e devolver o dinheiro para Angola», acrescentou.

Portugal, segundo o ativista, tem a obrigação de saber se os capitais que entram no seu território pagam os seus impostos em Angola, um país que tem tantas limitações no que se refere ao bem-estar da população, que passa por carências extremas.

«A par da China e do Brasil», Portugal está entre «as maiores lavandarias dos recursos roubados de Angola», referiu ainda o ativista político angolano Rafael Marques.

Marques, entretanto, já vê «sinais na sociedade portuguesa, sobretudo dos magistrados, de prestar a atenção a esta situação e este é um sinal positivo que deve ser reconhecido, porque a magistratura portuguesa acaba por conferir alguma respeitabilidade ao Estado português».

«Há uma certa resistência por parte da sociedade angolana a tudo isso que se passa, mas tem mais a ver com o discurso de Portugal, do que com os cidadãos portugueses», indicou ainda Rafael Marques.

«O governo português é visto como um acessório de propaganda do governo angolano, pelas declarações que os dirigentes portugueses fazem a favor da elite angolana, desta elite corrupta», sublinhou o ativista angolano.

Fonte: tvi24.iol.pt

Club-K, 25 de Maio de 2013